quarta-feira, 2 de julho de 2025

A sobremesa como experiência: por que precisamos resgatar o prazer do cotidiano

 

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Por Natalia Silva, coordenadora de Marketing e Inovação da Mr Bey*

Encerrar a refeição com uma sobremesa sempre teve um lugar especial no cotidiano brasileiro. Mais do que um simples gesto gastronômico, esse momento simbolizava afeto, celebração e uma pausa para o prazer. O pudim no domingo, a mousse nas festas de aniversário, o doce de leite compartilhado entre gerações em diferentes regiões do país, a sobremesa sempre foi uma verdadeira linguagem de carinho.

Hoje, entretanto, esse ritual tem sido deixado de lado. Em meio à rotina acelerada, marcada por refeições funcionais e alimentos ultraprocessados, até o prazer à mesa parece ter sido comprimido. O desejo pelo doce, no entanto, permanece vivo. O consumo de chocolate, por exemplo, cresceu 6% no Brasil em 2023, segundo a Abicab. Já o consumo de sorvetes chegou a 9,1 litros por pessoa ao ano, conforme dados da Abrasorvete.

O que mudou não foi a vontade, mas o espaço que reservamos para esse desejo em nosso cotidiano. O prazer se tornou um evento raro, muitas vezes envolto em culpa e restrições. O tempo para saborear algo virou um verdadeiro luxo. Comer uma sobremesa, antes um hábito compartilhado seja em família ou a sós, agora precisa competir com a lógica da performance, onde até a alimentação precisa “render”. Essa mudança revela uma desconexão mais profunda: a dificuldade crescente de encontrar pausas verdadeiramente significativas no dia a dia.

Ao deixarmos de vivenciar pequenas experiências sensoriais, como saborear algo doce, perdemos também o acesso a camadas importantes da vida emocional e cultural. A sobremesa, nesse sentido, torna-se um símbolo poderoso: sua ausência denuncia um cotidiano cada vez mais pragmático, enquanto sua presença pode representar um ato de reconexão consigo mesmo. Relatórios recentes da Tetra Pak e da Ipsos apontam para esse tensionamento nas escolhas alimentares. Surgem movimentos como o da “indulgência consciente”, nos quais os consumidores buscam momentos de prazer mais pontuais, porém com qualidade superior, menos culpa e mais significado.

Trata-se de um comportamento que expressa o desejo por equilíbrio entre praticidade e experiência, entre o automático e o sensorial. Nesse contexto, surgem iniciativas que buscam resgatar o papel da sobremesa como um momento de pausa e conexão. Reformulações que priorizam o apelo sensorial, novas categorias de produtos e conteúdos que inspiram o preparo de receitas criativas propõem um reencontro com esse gesto simples, mas potente. Não se trata apenas de oferecer doces, mas de reinserir o prazer com sabor e qualidade na rotina das pessoas.

Apostar na sobremesa como experiência é, no fundo, defender uma forma mais humana de viver. É reconhecer que o prazer não precisa ser um luxo ou uma exceção. Que desacelerar por alguns minutos, saborear um doce, rir ao redor da mesa ou simplesmente se recompensar sozinho no sofá são práticas legítimas de autocuidado e celebração. Ao propor esse reencontro entre tempo, sabor e afeto, as sobremesas deixam de ser um fim de refeição e voltam a ser o começo de momentos memoráveis.

*Natalia Silva é coordenadora de Marketing e Inovação da Mr Bey Líderes no mercado com petit gateau, brownie.

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