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Há drinques que não pertencem apenas ao copo, mas à memória coletiva. Mais do que uma receita que resistiu ao tempo, um clássico é a soma rara de precisão, contexto e alma. Desde que o primeiro “cocktail” foi registrado em 1806, uma mistura simples de destilado, açúcar, água e bitters, a coquetelaria evoluiu como uma arte que une ciência, sensibilidade e cultura. Mas o que, afinal, faz de um coquetel um clássico?
Para o mixologista Xandão Loureiro, referência em coquetelaria clássica e autoral no Cabernet Butiquim, em Belo Horizonte, a resposta começa nos fundamentos: técnica, ingredientes e verdade. “Todo coquetel icônico nasce de uma base impecável. Os clássicos foram criados com ingredientes de qualidade, equilíbrio de medidas e respeito ao tempo de preparo. Sem isso, o sabor se perde — e com ele, a história também”, afirma Xandão.
A história dos coquetéis é também a história dos bares. Cada grande receita está ligada a um balcão lendário — do Harry’s New York Bar, em Paris, ao Raffles Hotel, em Singapura, passando pelos clubes de Nova York e pelos speakeasies da era da Lei Seca. Os drinques nascem desses endereços como personagens de uma época, carregando consigo a atmosfera, os hábitos e até os sotaques de quem os criou.
Loureiro explica que, por trás de cada coquetel lendário, há uma combinação precisa de técnica, ingrediente e experiência, e que dominar essa tríade é essencial para qualquer criação autoral: “Você só consegue criar de verdade quando domina o clássico. Saber preparar um Fitzgerald ou um Boulevardier com perfeição é entender o porquê de cada elemento estar ali. O autoral começa quando você domina essa estrutura e passa a escrever o próximo capítulo dela”, completa.
Em sua carta no Cabernet, o mixologista recupera a trajetória de cinco ícones da coquetelaria — Fitzgerald, Bloody Mary, Dry Martini, Mai Tai e Boulevardier — mostrando como cada um traduz seu tempo, seu criador e um modo de beber que atravessou décadas.
Fitzgerald – elegância e melancolia na era do jazz
Criado nos anos 1990 por Dale DeGroff, o Fitzgerald nasceu como uma homenagem ao escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald, símbolo da efervescência e do glamour da década de 1920. O autor de O Grande Gatsby inspirou um drinque que, embora moderno, carrega a nostalgia dos salões de jazz e das festas proibidas da Lei Seca.
No Cabernet, Loureiro prepara o Fitzgerald com gin, suco fresco de limão siciliano, xarope simples e Angostura Bitter, servido em copo baixo com gelo.
Bloody Mary – o drinque que desafia o paladar e a história
Poucos coquetéis têm uma origem tão disputada quanto o Bloody Mary. Acredita-se que tenha surgido em Paris, nos anos 1920, pelas mãos do bartender Fernand Petiot, no lendário Harry’s New York Bar — ponto de encontro de artistas e escritores expatriados, como Hemingway e Fitzgerald. Com o tempo, a receita ganhou contornos americanos: vodca, suco de tomate, pimenta, molho inglês, sal de aipo e um toque cítrico de limão. O nome, dizem, remete à rainha Maria I da Inglaterra, a “Bloody Mary”, conhecida por sua severidade e perseguições religiosas. Outros associam à atriz Mary Pickford, símbolo de uma era de ouro do cinema mudo.
No Cabernet, o Bloody Mary é tratado como uma experiência gastronômica. “É um drinque que exige tempo e precisão. Quando equilibrado, é quase uma refeição líquida”, apresenta o mixologista. O preparo valoriza textura, temperatura e um ponto de picância controlado — ousadia que transformou um coquetel polêmico em clássico eterno.
Dry Martini – a precisão que moldou um ícone
Nenhum drinque sintetiza tanto o ideal de elegância quanto o Dry Martini. Surgido entre o fim do século XIX e o início do XX, tornou-se símbolo de refinamento e ritual. Era o favorito de Churchill, Hitchcock, Hemingway e, mais tarde, de James Bond — cuja frase “shaken, not stirred” popularizou o coquetel no cinema. : gin seco e vermute seco, em proporção milimetricamente controlada, servidos gelados e finalizados com três azeitonas. Mas por trás dessa aparente simplicidade há um campo de debates entre puristas e inovadores.
Loureiro prefere a escola clássica: usa Beefeater e Nolly Prat, mexendo o líquido com delicadeza para manter a clareza e o brilho. “O Martini é sobre precisão. Um segundo a mais no gelo, e a textura se perde. É uma lição de autocontrole em forma de copo”, explica.
Mai Tai – o sonho polinésio que conquistou o mundo
O Mai Tai nasceu em 1944, na Califórnia, quando o restaurateur Victor “Trader Vic” Bergeron criou um coquetel inspirado na cultura da Polinésia.Misturando rum jamaicano, licor de laranja Curaçao, orgeat( xarope a base de amêndoas e rum com especiarias) e limão-taiti, Vic teria servido o drinque a dois amigos taitianos que exclamaram “Mai tai roa ae!” — expressão que significa “excelente” na língua taitiana. Desde então, o coquetel se tornou o emblema do movimento tiki, que misturava exotismo, escapismo e cultura pop no pós-guerra. O Mai Tai era o retrato de um Ocidente que sonhava com paraísos tropicais e liberdade em tempos de reconstrução.
No Cabernet, o drinque mantém esse espírito solar. Servido em copo baixo e finalizado com gelo moído por cima , é um lembrete de que leveza e imaginação também fazem parte da história da coquetelaria. “O Mai Tai é pura nostalgia líquida. É sobre o desejo de estar em outro lugar, mesmo que por alguns minutos”, diz Loureiro.
Boulevardier – o lado parisiense da força
Nascido na Paris dos anos 1920, o Boulevardier é primo sofisticado do Negroni. Foi criado pelo escritor e editor americano Erskine Gwynne, fundador da revista The Boulevardier, frequentador dos cafés e bares da Rive Gauche. Ao substituir o gin do Negroni por bourbon, Gwynne criou um coquetel de alma mais quente e densa, ideal para o clima europeu. O resultado combina Campari, vermute rosso e whiskey, em notas amadeiradas e final persistente.
No Cabernet, o Boulevardier encerra o roteiro como um tributo à boemia intelectual que marcou o entre-guerras. “É um drinque de reflexão. Pede tempo, silêncio e um bom papo de balcão. É sobre o prazer de desacelerar”, comenta Loureiro.
Uma carta de histórias líquidas
Com uma das coquetelarias mais respeitadas de Belo Horizonte, Xandão Loureiro transita entre o rigor da escola clássica e a liberdade da coquetelaria autoral, e o que une essa mistura é a hospitalidade. “Para ele, essa ponte é o que mantém viva a arte de beber bem. “O clássico é o alicerce, o autoral é a expansão. Mas só quem domina o primeiro consegue alcançar o segundo”, afirma. Em tempos de misturas instantâneas e modas passageiras, Loureiro acredita que os clássicos continuam a nos ensinar sobre paciência, precisão e prazer. “Um bom coquetel é como uma boa história: tem começo, meio e fim. E o segredo está em fazer cada parte com respeito e intenção. Quando o cliente entende que está bebendo uma história, tudo muda. O sabor ganha contexto, e o ritual volta a ter significado”, conclui o mixologista.
SERVIÇO:
CABERNET BUTIQUIM
Terça a quinta-feira: 11h30 às 23h30
Sexta e sábado: 11h30 às 23h30
Domingo: 11h30 às 16h
Reservas: (31) 98447-410 – WhatsApp
Romano Comunicação

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